SERRA GAÚCHA - PARTE 1: GRAMADO, CANELA, VALE DOS VINHEDOS

Já que o frio chegou, pensar na Serra Gaúcha como destino de férias em Julho é um ótima opção, e por isso acho que é uma boa hora de contar o que vi e gostei nessa viagem.

Na Serra do Rio Grande do Sul, a neve  no inverno pode tardar ou falhar, mas o frio se faz presente em todas as estações do ano. Com uma certa dose de sorte a neve pode ser vista de junho a agosto, embora isso não seja garantido. De qualquer forma o frio é uma das características da região mesmo em Janeiro, onde à noite a temperatura pode chegar a 10°, e por causa disso culinária da região apresenta características muito particulares. 

Do tradicional churrasco gaúcho à mesa farta da culinária italiana e alemã, o vinho aparece como protagonista que prolonga o prazer à mesa. E no roteiro gastronômico não pode faltar a tradicional seqüência de fondue: de queijo, de carne (aqui na versão feita na pedra conhecida como "la pierrade"), e de chocolate. Essa delícia nós provamos no restaurante Maison De La Fondue que fica no centro de Gramado.

E como se não bastasse, o gran finale fica por conta dos deliciosos doces típicos e o incomparável chocolate produzido artesanalmente na região. Várias são as fábricas de chocolate, mas achei especial a Florybal, que não é a maior nem a mais famosa, mas é a que produz o chocolate mais gostoso, além de ser mais barata que outras mais conhecidas.

A Serra conta ainda com excelente estrutura hoteleira, de hotéis de luxo a pousadas charmosas,  aliada à simpática hospitalidade dos gaúchos que são anfitriões dos melhores.

Com todas essas características, como não se encantar com a Serra Gaúcha? Se você ainda não foi até lá não sabe o que está perdendo...mas vou te contar!

São dois núcleos turísticos na região formada por dezenas de municípios. Como são regiões próximas, a cerca de uma hora e meia de carro ou 100 km de distância uma da outra, dá para conhecer tudo em poucos dias de viagem.

Na chamada Região das Hortênsias estão Gramado, Canela e Nova Petrópolis, entre as cidades mais conhecidas, e também a pequena São Francisco de Paula. É a região com maior infra-estrutura de hotéis, pousadas, cafés e restaurantes, e ainda conta com vários museus, parques e festivais. 

Nessa região são as hortênsias, estas lindas flores, que fazem o espetáculo azul, branco e rosa nas estradas e jardins, principalmente a partir de outubro até janeiro.

No Vale dos Vinhedos, as cidades de Bento Gonçalves, Garibaldi e Carlos Barbosa concentram as principais vinícolas, e a paisagem mais bonita vai de outubro a fevereiro quando as parreiras estão carregadas. 

A linda combinação entre parreiras e roseiras não é aleatória, mas uma técnica utilizada para evitar a infestação de pragas na plantação: as rosas são as primeiras a serem atingidas e assim há tempo para se acabar com as pragas antes que elas atinjam as parreiras. 

Já no inverno as folhas caem e os frutos já foram colhidos sobrando pouco da beleza anterior. Mas os bons vinhos para degustação estão por toda parte em qualquer época do ano, nas inúmeras vinícolas da região. 

Em nossa viagem contamos com a ajuda de Luiz Barros, um guia contratado pela pousada em que estávamos hospedados. Ele é carioca, mora há alguns anos no Sul, e além de ótimo fotografo, foi uma excelente companhia em todos os passeios. Super recomendado! 

Uma maneira também muito legal de conhecer a Serra é fazê-lo por conta própria, alugando um carro a partir do aeroporto de Porto Alegre. Estando de carro ganha-se em liberdade de conhecer e explorar cada atração do seu jeito e no seu ritmo, e é muito fácil explorar toda a região. 

GRAMADO E CANELA

As cidades, que ficam distante 115 km de Porto Alegre, têm temperaturas distintas da capital do estado. O inverno em Gramado e Canela é mais rigoroso, com a ocorrência de fortes geadas, temperatura abaixo dos 10ºC e expectativa de neve, principalmente em São Francisco de Paula. À noite, faz frio em todos os meses do ano, mas  pode-se aquecer com conforto nos vários hotéis e pousadas com suas piscinas térmicas, hidromassagem, calefação e lareira, e também nos vários restaurantes que, além da culinária típica servem fondue, vinho e chocolate quente. Como podem ver, um programa a dois pela região é uma ótima opção romântica!

Em Gramado, embora existam influências dos imigrantes italianos e imigrantes portugueses, para o turismo a característica dos imigrantes alemães se sobressai na arquitetura, no folclore, na gastronomia e na paisagem. Para quem visita a cidade pela primeira vez, um passeio de hora e meia na Jardineira das Hortênsias, o city tour oficial, dará uma boa noção da cidade.

Não deixe de fazer caminhadas sem pressa pelo centro que, além de desfrutar do bom comércio local, ajuda a gastar as calorias acumuladas após orgias gastronômicas, como as do famoso “café colonial”. E por falar em gastronomia, são inúmeros os bons restaurantes da cidade. Para não me alongar muito nesse assunto, melhor que cada um faça sua escolha, e para isso indico o ótimo blog Destemperados que traz dicas excelentes sobre os melhores restaurantes de Gramado e Canela.

Gramado divide com a vizinha Canela algumas atrações que encantam adultos e crianças, e todas estão muito bem descritas nos vários sites e blogs de viagem, como a famosa Cascata do Caracol, que para mim é um local imperdível, e por isso destaco aqui. O melhor e mais divertido é visualizar a cascata do teleférico, por isso nem perca tempo em ir até o mirante (que se vê na primeira foto ao longe e à esquerda).

Como a maioria das atrações já estão no roteiro das agências de viagem, não vou me ater a elas.  Prefiro então mostrar outros locais menos conhecidos, mas que vale a pena explorar. Um desses lugares é o bonito Le Jardin – Parque de Lavanda. 

Parece...mas você não está na Provence, nem em uma das muitas fazendas de lavanda da Europa! Este é o primeiro parque do Brasil com um jardim impecável de milhares de pés.

No local existe um café e uma loja muito charmosa que oferece produtos inspirados na lavanda, com uma linha própria de cosméticos feitos a partir do óleo dessa planta, além de artigos de cama, banho, decoração e o diferente e exclusivo chocolate de lavanda. Tudo muito lindo, e o chocolate é delicioso!

Outro lugar que conhecemos foi uma fábrica de perfumes, a Fragram, que além de loja de perfume, cosméticos e sabonetes,  abriga também um museu do perfume. Muito interessante!

E ainda em Canela, num vale cercado por montanhas na estrada do Morro Calçado, conhecemos o moderno e bonito alambique Flor do Vale, que produz  artesanalmente uma autêntica cachaça destilada em alambiques de cobre. 

O processo de produção da cachaça possui várias etapas que começa com a escolha da cana que é cultivada a 7 km do alambique. O visitante tem a oportunidade de realizar uma visita guiada pelo estabelecimento e observar os locais onde se faz a moagem e filtração, a fermentação, a destilação e o envelhecimento da cachaça. Muito interessante!

O setor de envelhecimento tem uma entrada muito bonita, parecendo um tonel de carvalho esquecido no tempo. Em seu interior a cachaça repousa em barris de diferentes madeiras da flora brasileira, o que dá aroma e sabor especial à bebida.

A bebida, que tem envelhecimento mínimo de 1 ano, é uma cachaça suave e produzida em duas versões: a Tradicional (branca) e a Premium (amarelada).

Chama a atenção a limpeza do local e o cuidado com a natureza. Ao se caminhar pela propriedade cruza-se com riachos e jardins bem cuidados, e isso é o reflexo da preocupação que os proprietários têm com o meio ambiente.

Ao final da visita pode-se degustar e comprar a cachaça na lojinha, e ainda aproveitar para saborear uma refeição saborosa no restaurante local (aberto apenas de 5a. a domingo no almoço).
E se ao sair do alambique o efeito da cachaça ainda atrapalhar os seus reflexos, cuidado!

VALE DOS VINHEDOS

Localizado entre os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, foi no Vale que a primeira cooperativa vinícola brasileira surgiu nos anos 30. Principal produtora de vinhos e vinhos espumantes do país, a região do Vale dos Vinhedos obteve em 2007 o reconhecimento, pela União Européia, de seu Selo de Indicação de Procedência.

O Selo I.P.V.V. identifica os produtos do Vale, e é garantia de origem e qualidade, e só podem ostentá-los os vinhos elaborados a partir de uvas provenientes da região e engarrafadas na sua origem. 

Atualmente os associados de uma grande cooperativa chegam a colher 50.000 toneladas de uva numa safra. Em janeiro e fevereiro, algumas vinícolas abrem a colheita para visitação além de diversos cursos sobre o mundo do vinhos.

Uma dessas vinícolas em atividade, e que guarda as características da arquitetura italiana da época, é a Barcarola.  Fundada por um imigrante do norte da Itália em 1879, a família Petrolli produz uvas e elabora vinhos em pequena quantidade com produção limitada e controlada, disponíveis somente em garrafas numeradas. 

A  vinícola funciona na antiga casa da família que está tombada pelo patrimônio histórico cultural do município, e sua proximidade com os vinhedos facilita o processo de elaboração dos vinhos. Os visitantes são recebidos pelos proprietários e podem fazer degustação gratuita dos vinhos e espumantes produzidos.

Ao visitar a Barcarola pode-se vislumbrar como era a vida há 100 anos atrás, e sua história retrata a paixão e dedicação dos imigrantes italianos no cultivo das vinhas e na arte de elaboração do vinho. 

Tantas vinícolas se espalham pela região que a escolha de qual visitar vai depender do tempo e interesse de cada visitante. Por isso pegue um mapa do Vale dos Vinhedos com a indicação de todas as vinícolas e siga sua intuição e preferências. Sem dúvida essa é a melhor maneira de explorar e descobrir as vinícolas que mais vão te agradar, além do prazer de seguir sem rumo num cenário único pelas colinas cobertas de parreiras, e estradinhas que serpenteiam uma paisagem repleta da bucólica arquitetura colonial italiana. 

Ficou com fome? Nenhuma problema, no caminho você encontrará bons restaurantes. Uma coisa a se prestar atenção é não perder o  horário do almoço. Os restaurantes fecham cedo, mesmo nos finais de semana. Depois de visitar algumas vinícolas e degustar muitos vinhos é comum esquecermos do almoço. Duas da tarde parece ser o limite da região, e quase perdemos a hora quando paramos para almoçar no restaurante Casa de Madeira.

Esse restaurante busca resgatar a culinária dos primeiros imigrantes italianos da região. O prato mais servido é composto por codorna ao molho de vinho cozida em panela de ferro, acompanhada de polenta mole, massa caseira e salada. Para acompanhar, vinho, é claro!

Além de boa comida, o restaurante tem uma loja que vende deliciosas geléias produzidas artesanalmente no local. Em sua maioria são geléias tipo gourmet com sabores inusitados. Comprei algumas e já fiz algumas experiências culinárias: a geléia de morango com pimenta misturada com gorgonzola resultou em uma pastinha deliciosa para aperitivo; a de menta com hortelã ficou perfeita com o carré de cordeiro; a de physalis deu tem toque original ao salmão grelhado.

Como podem perceber, não é só de vinho que vive o Vale dos Vinhedos.

Como são muitas vinícolas ficaria cansativo descrever cada visita que fizemos, mas gostaria de destacar duas delas. A primeira pela simpatia de seu proprietário, Don Candido, que vem pessoalmente receber cada visitante e ajudar na escolha dos melhores vinhos.

A segunda vinícola a destacar é a maior de todas, a Miolo, e foi lá que tivemos a oportunidade de conhecer com maiores detalhes a difícil e encantadora arte de produção de vinhos. Visita imperdível!

A propriedade da Miolo é muito bonita e atrai muitos turistas. O tour de visitação é pago e inclui um curso básico de degustação de vinhos.

O tour leva os visitantes aos tanques de fermentação e às caves da propriedade, e um enólogo acompanha o grupo explicando com detalhes cada fase da produção. Quando não está chovendo, o tour inclui ainda uma rápida visitação às parreiras da propriedade para que se conheça as características dos diferentes tipos de uvas.

Os vinhos produzidos podem ser comprados na loja da vinícola onde também é possível se degustar outros produtos como grappa, licores e queijos. A loja vende também alguns produtos de beleza fabricados à base de uvas ou vinho.

Em frente à vinicola Miolo chama a atenção o maravilhoso Hotel & Spa do Vinho Caudalie. É o maior e mais luxuoso hotel do Vale dos Vinhedos que tem como proposta diferencial o enoturismo, com atividade e cursos sobre o mundo dos vinhos, além de tratamentos à base de uva e vinho no seu competente Spa. 

Outros hotéis e pousadas oferecem hospedagem confortável no Vale, o que faz com que apreciadores de vinho possam explorar e disfrutar por mais tempo as vinícolas da região. Algumas vinícolas, como a Casa Valduga e a Miolo, também oferecem opções de hospedagem.

Depois da visita e degustação, é impossível sair das vinícolas sem algumas garrafas de vinho na bagagem, além de degustar a única bebida apreciada por todo o mundo desde os mais remotos dos tempos. Como bem definiu Sócrates: 

" O vinho molha e tempera os espíritos, acalma as preocupações da mente...Ele reaviva nossas alegrias e é óleo para a chama da vida que se apaga. Se você bebe moderadamente, em pequenos goles de cada vez, o vinho gotejará em seus pulmões como o mais doce orvalho da manhã...Assim, então, o vinho não viola a razão, mas nos convida gentilmente a uma agradável alegria".

Se beber não dirija...então melhor parar por aqui e continuar a viagem pela Serra Gaúcha no próximo post.