Páginas

KONYA E CAPADÓCIA


É um longo caminho pela região da Anatólia Central, passando pela província de Konya , para se chegar onde está a Capadócia, mas graças à nossa guia a viagem foi bastante agradável e instrutiva: de aula de turco a história da Turquia, islamismo, dervixes e, claro, muita música turca. 
Veja a região da Anatólia Central no mapa abaixo (para ampliar clique no mapa)

Numa das paradas no caminho, tivemos a oportunidade de provar um prato típico da região que é iogurte com mel e semente de papoula, acompanhado do gostoso chá de maçã. Diferente e delicioso!


Desde 1883 nessa região a plantação de papoulas é legalizada, os campos são visíveis e próximos das estações de controle do governo. 


Desta linda flor são extraídas as sementes, utilizadas na culinária, e o leite viscoso branco, o ópio, que serve para fabricação de medicamentos, como a morfina (Roche e Abbott são as principais indústrias farmacêuticas). Na Turquia, no mes de julho, se colhe o leite dos bulbos das flores à noite para não escurecer com o sol, pois caso contrário endurece e pode ser processado para produção da heroína. Para impedir que a droga seja produzida, o governo controla a venda dos bulbos das plantas assim como tem um rígido mapeamento da produção e venda de todos os agricultores e uma fiscalização constante de todas as áreas plantadas. 

KONIA

Uma parada obrigatória e interessante é a cidade de Konya, onde está o Museu Mevlana e a tumba de Jalal ad-Din Muhammad Rumi, um místico sufi também conhecido como Mevlâna, ou Rumi. Ele foi um filósofo que nasceu no Afeganistão e fundou a ordem que leva seu nome. Ele morreu nesta cidade em 1273 e sua tumba é do século XVI.


Seguidores de Mevlana difundiram a Ordem Mevlana do sufismo, que prega a tolerância, a compreensão e a misericórdia. Os dervixes, membros do sufismo, também chamados de sufis ou sufistas, procuram uma relação direta com Deus por meio de cânticos, músicas e danças, o que os fazem exóticos e interessantes. 


O sufismo ensina uma coisa muito prática e interessante: quando o homem fica calmo ele consegue resolver todos os seus problemas. E está é uma das características dos dervixes, membros da ordem, que praticam uma espécie de dança rodopiante como forma de meditação para se ligar a Deus. 


A dança acontece em uma cerimônia (sema) em que, por meio de uma concentração incomum, os dervixes rodopiam no próprio eixo por volta de 10 minutos e, ao terminarem, voltam a andar normalmente até recomeçar. Este ritual se repete por quatro vezes durante 1 hora. Ao rodar, os dervixes projetam uma mão virada para cima e a outra para baixo, simbolizando a bênção do céu e a comunicação com a terra.  Neste video pode-se ver um trecho dessa cerimônia. Os verdadeiros dervixes se sentem voando e não rodopiando, e sua concentração impede que eles sintam tontura e caiam no chão, mas são poucos os que conseguem fazer isso por muito tempo. 


Konya é a cidade mais religiosa da Turquia e a pátria do Sufismo. Uma vez ao ano, em meados de Novembro, dervixes de todo mundo, inclusive brasileiros, se reúnem em Konya para uma grande celebração. Nossa guia nos contou um fato histórico protagonizado por uma baiana que inovou nas vestimentas usuais ao participar com roupas coloridas ao invés do tradicional traje branco. Desde então, muitos dervixes no mundo adotaram o uso de cores. Quem quiser assistir ao espetáculo anual dos dervixes tem de fazer a reserva com muitos meses de antecedência. 


O Museu Mevlana abriga o Mausoléu de Mevlana, assim como o de seu pai, além de tapetes, manuscritos, instrumentos musicais e uma coleção incrível de belas cópias do alcorão. Infelizmente é proibido tirar fotos no seu interior.  Na parte externa encontra-se um interessante cemitério onde estão enterrados vários seguidores da ordem. Em suas lápides existem inscrições e a representação de característico chapéu utilizado por esses dervixes.


Konya é a principal e maior cidade da região, com mais de 2 milhões de habitantes, e a população mais tradicional de toda a Turquia. Em suas terras são produzidos 90% de todo trigo e uma importante fábrica de aviões também está no local. Isso me fez pensar: Mevlana criou o giro como forma de meditação para conseguir “voar” até Deus, e na atualidade uma importante fábrica de aviões da Turquia foi construída ali. Estranha coincidência esse dom de voar!   

CAPADÓCIA


Chegamos a noite na Capadócia e nos hospedamos no Dinler Hotel que fica em Ürgüp. Não foi um daqueles hotéis característicos da Capadócia, como que escavados nas pedras, e onde você se sente morando numa caverna. Em geral esses hotéis são muito caros, exclusivos, e essa opção vai depender do seu objetivo na viagem. Para nós esse hotel que ficamos serviu muito bem às nossas necessidades. 

Após o jantar nossa guia sugeriu que fôssemos a um show de danças turcas típicas, que acontece no Harmandali Restaurant , em Nevsehir na Capadócia.

O lugar é interessante, parece uma caverna típica da Capadócia. Você pode jantar ou apenas assistir ao show.




De início achei o show cansativo pois se limitava a várias danças de pouco interesse e repetitivas: passos de roda com roupas brilhantes e simples, onde os homens e mulheres (magérrimas) se revezam nas rodas. Mas eis que entra em cena uma dançarina  que  se apresenta sozinha em 3 atos: faz o giro sufi (dança religiosa) e depois executa a dança dos sete véus e a dança cigana turca (foto abaixo). Sensacional! 




Algo nela chamou minha atenção. Ela tinha um corpo mais bonito que as demais dançarinas e mexia sensualmente os quadris. Descobrimos o segredo: era brasileira!  

Uma pequena amostra da dança de Clara que assisti está neste vídeo: 


Definitivamente ela foi o ponto alto do show folclórico e sua versão do ritual dos dervixes, foi realmente incrível, mas não consegui filmar porque a bateria da máquina acabou. Por isso peguei emprestado do Youtube esse video que mostra Clara nessa dança: veja aqui

Essa brasileira de coração turco tem uma história muito interessante. Veja nesta reportagem 


Uma curiosidade!
Durante uma pesquisa de campo para a novela “Salve Jorge” da Rede Globo,  a autora Glória Perez conheceu a brasileira Maria Clara neste show de dança típica. Esse encontro inspirou a criação da personagem Bianca, interpretada por Cléo Pires.  A bailarina também virou professora de dança do elenco e participou das gravações contracenando com o ator Domingos Montagner, que interpreta Zyah, o guia turístico pelo qual Bianca se apaixona.


Além das apresentações diárias no Harmandali Restaurant, Maria Clara dá aulas gratuitas de dança para crianças turcas e oferece aulas de dança do ventre e roman dance (dança cigana turca) para mulheres de todas as idades. Mais uma dica para turistas brasileiras! E quando vem ao Brasil ela faz workshops em várias cidades. Veja a programação no seu site oficial.

Voltando ao o show folclórico, no final da apresentação o DJ atacou de “Macarena e continuou com "YMCA", "I will Survive" ...difícil agüentar! Mas como toda viagem tem seu “mico”, até que foi divertido e eu não tinha do que reclamar, afinal estávamos na Capadócia, e não é possível alguém ficar de mau humor ao se dar conta disso: sorte minha que estava lá!


PAMUKKALE E HIERÁPOLIS

Pamukkale significa "castelo de algodão", o que descreve muito bem o local, uma imensidão branca com bacias esculpidas cheias de água, que ao longe parecem feitas de neve, nuvem ou algodão, mas se trata de um fenômeno surpreendente: cálcio petrificado.



Logo que se chega próximo ao “castelo de algodão”, encontram-se as ruínas de Hierápolis, cujo significado é “Cidade Sagrada”, que está a 376 metros no alto de uma colina, e foi construída no século II a.C. A cidade, em conjunto com Pamukkale, fica no sudoeste da Turquia, a 650 km ao sul de Istambul e 230 km a leste de Izmir. Toda região é protegida  como Patrimônio Mundial pela UNESCO. A imagem abaixo mostra como era esse local na antiguidade (para ampliar clique no mapa).


As ruínas da cidade romana de Hierápolis estendem-se por vários quilômetros ao redor de Pamukkale e passamos por elas antes de chegar ao “castelo de algodão”.






Um dos monumentos se destaca: o imponente Teatro Romano.


Na antiguidade Hierápolis adquiriu a fama de sagrada porque as águas dali eram tidas como medicinais e com poder de rejuvenescimento. Por isso, ao longo da história, o local atraiu pessoas dos mais longínquos lugares. Cleópatra era freqüentadora assídua das termas do local e a pedido dela, foi construída uma piscina de água corrente, que ficou conhecida posteriormente como “Piscina de Cleópatra” e hoje, uma piscina construída em cima das ruínas da antiga piscina, é utilizada pelos turistas que nadam sobre antigas colunas romanas.



Como Pamukkale está bem ao lado, as ruínas da cidade de Hierápolis tornam-se secundárias e acabamos por dedicar pouco tempo para explorá-las. Recomendo, portanto, que vá com mais tempo se quiser visitá-las.

Pamukkale é uma das maravilhas naturais mais extraordinárias da Turquia. O branco que reveste as montanhas formando a linda paisagem e as belas piscinas naturais, são provenientes de nascentes de água mineral quente que, durante séculos,  emergem de quilômetros de profundidade misturadas ao cálcio existente na região. Quando as águas chegam à superfície dão origem às diversas bacias, e o efeito resultante é espetacular: as águas caem sobre uma série de degraus, que com o tempo formaram várias cascatas solidificadas.


A temperatura da água oscila entre os 35º C e 50º C sendo especialmente indicada para as doenças nervosas, de pele e do coração. Por isso banhar-se em Pamukkale é considerado medicinal e, para muitos, é uma espécie de fonte de beleza. Infelizmente hoje em dia está proibido o banho nessas piscinas naturais, pois se descobriu que a tinta proveniente das roupas de banho em geral e do cabelo tingido das mulheres, está escurecendo o branco que reveste a montanha. Atualmente o uso de roupas de banho está proibido e as pessoas só podem andar pelo local se estiverem descalças e com as pernas descobertas.





Não existem palavras para descrever o espetáculo deslumbrante que é Pamukkale. Melhor que as imagens falem por si.





E ao por do sol o "castelo de algodão" torna-se ainda mais bonito




E em instantes, pura magia!



Com essas imagens nos despedimos de Pamukkale com a certeza que esse é um dos lugares mais lindos do mundo!

Como os banhos em Pamukkale infelizmente estão proibidos, não há necessidade de ficar muito tempo por lá, e por isso um hotel limpo e confortável como o Lycus River, é tudo que se precisa para descansar e continuar viagem no dia seguinte. 



E agora só nos resta dormir e sonhar com a inigualável Capadócia!


ÉFESO / A CASA DA VIRGEM MARIA / TEMPLO DE ARTEMIS

A melhor maneira para se chegar à região onde começa a viagem a Éfeso / Pamukkale / Capadócia, é sem dúvida de avião, porque ganha-se muito tempo, é menos cansativo e não é caro. Veja a região no mapa (clique no mapa para ampliar)


Uma parte do nosso grupo, que fez todo o trajeto de ônibus desde Istambul, comentou que essa é uma péssima opção porque, além da viagem ser cansativa, as cidades que se visita no roteiro terrestre são sem atrativos (Çanakkale / Tróia / Pérgamo). De avião ainda tivemos a vantagem de ganhar mais tempo em Istambul, tanto na ida como na volta (1 dia e meio ao todo).


De Istambul pegamos um avião que vai até Izmir e de lá um translado até o Hotel Sealight em Kusadasi. Como chegamos à noite apenas jantamos e fomos descansar, mas na manhã seguinte bem cedo tivemos uma surpresa ao olhar a vista da sacada do nosso quarto.




O hotel é muito agradável, fica numa região muito bonita e foi uma pena não ficarmos mais tempo por lá. Saímos bem cedo para iniciar a viagem e nem tivemos a chance de conhecer Kusadasi. Essa é uma dica para quem vai à região: fique ao menos 1 dia para conhecer a cidade, vale a pena.

A saída logo cedo de Kusadasi é essencial para dar conta de visitar 3 pontos turísticos importantes num só dia: a Casa da Virgem Maria; Éfeso e Pamukkale. Graças à organização da nossa guia foi possível fazer todo o roteiro a tempo, mas se o grupo se atrasar a conseqüência é chegar em Pamukkale ao anoitecer e não ver o "Castelo de Algodão", o que seria inaceitável. 

CASA DA VIRGEM MARIA


Nossa primeira parada foi na Casa da Virgem Maria, que fica no cume do monte Coresus, a 8 km da cidade de Éfeso.
Conta a história que Maria e outros apóstolos foram perseguidos após a morte de Jesus. Como vivia como fugitiva, Maria preferiu morar longe da cidade, nas montanhas, e então São Jõao a trouxe para morar neste local próximo a Éfeso. Na verdade não se sabe ao certo se ela morreu neste local ou se voltou a Jerusalém, só se sabe que usou esta casa que só foi descoberta no século XIX de uma maneira muito peculiar. 
Uma monja alemã, chamada Anne Catherine Emmerich,que viveu entre os anos de 1774-1824, sonhou com a casa da Virgem sem nunca ter estado em Éfeso. Ela descreveu esse sonho a um escritor, Clemens Brentano, que publica sua história em um livro em 1824, "The Life of The Blessed Virgin Mary", e a partir desse livro a casa foi descoberta. O Vaticano realizou 15 anos de estudo sobre o assunto até reconhecer a casa como autêntica e construir uma igreja no local. A casa que se vê hoje é uma réplica da que foi achada em ruínas. Ela fica em uma bela região, a 435 metros acima de Éfeso e com uma bela vista do Mar Egeu. O local é bem cuidado e a casa é circundada de um agradável jardim. Infelizmente não é permitido tirar fotos de dentro da casa.




Também existe um monastério que cuida da preservação do local, e uma loja com lembrancinhas exclusivas.


Desde a visita do Papa Paulo VI em 1967, a Casa da Virgem Maria se tornou local oficial de peregrinação da Igreja Católica e todos que passam por lá acendem velas, bebem a água benta das fontes, e colocam em um muro bilhetinhos com pedidos ou agradecimentos à Virgem.





ÉFESO

Após a visita à Casa da Virgem Maria, descendo a montanha em um pequeno percurso de carro, se chega a Éfeso, cujo nome vem do grego e significa “abelha”, porque na primavera é comum aparecerem muitas abelhas por lá. Como fomos no início do inverno não vimos nenhuma abelha, mas descobrimos que era a melhor época para visitar o local porque o tempo estava firme e agradável. Um grande problema para o turista é tentar visitar Éfeso no verão. Nossa guia nos disse que já enfrentou temperaturas acima de 45º. Com um calor desses muitos turistas que começam o passeio desistem no meio do caminho porque o trajeto é longo e não existem sombras. Por isso, evite ir até lá no verão!


Éfeso foi uma das cidades mais ricas de sua época e um importante centro do cristianismo. É um lugar fantástico, cheio de história e cultura.
A cidade de Éfeso foi construída e reconstruída cinco vezes. A primeira, do século XI a.C, era uma cidade grega, e a última foi construída pelos romanos no século II D.C., e são desta cidade as ruínas que se vê no local.


Há 650 anos a cidade está sendo escavada, e ainda hoje apenas 20% foi descoberta. As escavações continuam por toda parte, ainda há muito para se conhecer, e hoje é considerado um dos maiores sítios arqueológicos do mundo.


Galpão fechado destinado às escavações das "casas da ladeira" em Éfeso

Antes o local era um vale fértil, com um golfo que abrigava um importante porto de carga internacional. Com cerca de 500.000 habitantes, era uma das maiores cidades da Ásia e o povo, que era comerciante, um dos mais ricos. Foi um influente centro comercial, religioso e político e chegou a ser considerada a mais ilustre das cidades. Como capital do Império Romano na Ásia, tinha grande poder econômico devido ao comércio e aos impostos, e sua população, bem intelectualizada, sabia admirar as artes e a valorizá-las, o que está refletido em sua arquitetura clássica, com fachadas bem adornadas e esculturas gregas na maior parte dos lugares. O mapa abaixo mostra com detalhes como era Éfeso na antiguidade (para ampliar clique no mapa).



Entretanto a fama e a riqueza acabaram 600 D.C. quando após um terremoto a cidade foi destruída e soterrada. O mar e os rios inundaram o golfo por 15km para dentro do continente.  Como conseqüência, os que sobreviveram abandonaram a cidade e hoje não se vê mais o golfo, pois ficou soterrado. As fotos aéreas abaixo, pesquisadas no site oficial de Selçuk, dão uma visão privilegiada do que é Éfeso hoje.






As ruínas de Éfeso têm duas entradas: uma pela entrada de Kusadasi e outra pela Porta de Magnésia, também conhecida como “porta de cima”, e é por onde a maioria dos turistas entram.






Logo na entrada o que se vê são as ruínas da parte administrativa, e o grande destaque é o Odeom, que era um anfiteatro para 1400 pessoas, e foi usado como parlamento da cidade, onde um teto de madeira protegia os políticos do sol e calor.






Detalhe de uma das portas do Odeom com nossa guia ao fundo.
Após o Odeom aparecem os Templos dos Políticos, sendo um deles dedicado a Júlio César. Na seqüência está a administração estatal, o “Prytaneo”, onde ardia permanentemente o fogo sagrado e era o centro político da cidade.





Nesse local se concentravam padres pagãos que tinham poder de cura, e nas colunas se vê o símbolo da medicina em frente ao que seria o prédio do hospital.



Foram construídos muitos edifícios e templos dedicados aos imperadores romanos, com o intuito de manter um bom relacionamento com Roma. O Templo de Domiciano é um deles, assim como a praça de mesmo nome. 


O Pórtico de Hércules abria a passagem a essa praça.


Logo na entrada está a interessante figura da deusa grega Nice (Niké em grego), cujo nome significa "vencer". Acredita-se que esta peça fazia parte do Pórtico de HérculesA figura representa a deusa carregando uma grinalda na mão esquerda e um ramo de tâmaras na outra.
Curiosidade: foi inspirado nessa deusa que empresários americanos criaram o logotipo da famosa marca de tênis Nike: é a asa vista ao contrário, um símbolo semelhante a uma asa em homenagem à deusa alada da vitória.


Em frente à praça está o Monumento a Memnioem homenagem a um político de nome "Gaius Memnio". Hoje este monumento está disposto como uma montagem de blocos, não é um reconstrução do monumento original que entre suas colunas suportava um teto cônico em forma de torre, que representava as virtudes de uma pessoa honrada.


O Portico de Hércules, que foi propositalmente construído estreito para evitar a entrada de veículos na cidade, se abre para a rua mais importante, a Avenida dos Curetes. Com seus 650 metros ela unia a parte administrativa e política com a parte pública da cidade. 



Nessa avenida ocorria o comércio para as pessoas ricas, com lojas de mercadorias caras, e no seu piso de mármore podem-se ver inscrições que indicavam a presença de cristãos que ali residiam escondidos. Até o século IV o cristianismo era proibido e então, para os cristãos se identificarem secretamente, colocavam o símbolo de um peixe na frente se suas casas. Depois que esse símbolo foi descoberto, por segurança, foi substituído por esse tipo de estrela que se vê ao fundo.


Uma das obras mais importantes dessa avenida é a Fonte de Trajano, construída em homenagem ao Imperador Trajano, o primeiro não nascido em Roma, mas na Península Ibérica. O monumento tinha 3 metros de altura e uma estátua do imperador de 2 metros que, entretanto, não esboçava a realidade, já que o imperador tinha apenas 1,60m de altura, mas mostrava a importância dele no Império. Hoje de sua estátua só restou o pé.


E ao lado os Banhos de Escolástica, que foi construído no primeiro século e restaurado no século IV por uma senhora cristã rica chamada EscolásticaÀ esquerda da entrada pode-se ver sua estátua sem cabeça.



À frente e na lateral dessa avenida está a bonita Rua dos Pedestres, toda coberta de mosaicos. 


Era o local onde as famílias ricas moravam, nas chamadas “casas da ladeira”, e no interior dessas casas existem os mais belos mosaicos e afrescos romanos, dando uma idéia da alta posição social dos que ali viviam. Essas casas tinham um sistema de água encanada que funcionava por pressão, e ainda um sistema de calefação, banheiros e pátios.


A maior parte das ruínas das "casas da ladeira"ainda estão sendo escavadas.

O galpão de escavação das "casas da ladeira" não estava aberto para visitação, então pesquisei esta foto no site oficial de Selçuk. 

Ao lado da Rua de Pedestres estava o curioso banheiro público da cidade, com seu complexo de latrinas, onde os homens podiam conversar enquanto tranquilamente faziam suas necessidades, um ao lado do outro sem nenhuma privacidade.


No centro do banheiro havia uma fonte e ainda um interessante sistema hidráulico embaixo das latrinas, onde a água corria para levar os dejetos e evitar possíveis odores.


Na frente da latrina também corria água utilizada pelas pessoas para se limparem. Dizem que esse banheiro público era utilizado ao mesmo tempo por homens e mulheres. Difícil acreditar!


Em seguida, na Avenida dos Curetes, nos deparamos com um dos mais bonitos monumentos da rua, o Templo de Adriano, construído em homenagem ao Imperador Adriano. Os relevos e adornos de seu frontão chamam a atenção pelo rico trabalho, e no friso interior está uma figura que lembra a mística e temida “Medusa”.




E ao lado do Templo de Adriano está uma pequena rua que levava ao bordel da cidade.


No final da Avenida dos Curetes está o monumento mais impactante de Éfeso: a Biblioteca de Celsius, que foi um famoso governador. 


Construída no ano 106 da nossa era pelos filhos de Celcius depois de sua morte, foi originalmente projetada para ser seu mausoléu. Tornou-se, entretanto, uma das mais importantes e maiores bibliotecas da antiguidade, com um acervo de cerca de 12.000 livros. 

Detalhe da entrada da Biblioteca

Interior da Biblioteca
Na entrada muito bem preservada, existem 4 estátuas que são réplicas das originais e representam: sabedoria; inteligência; virtude; conhecimento; as 4 virtudes que uma pessoa tinha de ter para entrar na biblioteca.


Estátua do Conhecimento (Sofia)
Ao lado da biblioteca estão dois arcos que dão entrada ao Mercado público, local onde a população local fazia suas compras. Foi construído por ex-súditos do Imperador Augustus, que dedicaram o portal a ele e sua família.
 

Éfeso foi uma das cidades do Império Romano onde o cristianismo mais se difundiu. Foi também uma das primeiras cidades nas quais os apóstolos Paulo e João pregaram, difundindo o catolicismo. Dizem que o evangelho de João pode ter sido escrito ali. Paulo trabalhou na cidade nesse mercado por cerca de 6 meses como vendedor de tecidos. Por causa de suas pregações sobre Jesus, foi preso por 1 ano até voltar para Roma. Abaixo detalhes do pátio interior desse mercado.




Depois da Biblioteca e à direita do Mercado, entra-se na Avenida de Mármore que vai até o GrandeTeatro.  




De lá temos uma bonita vista do Mercado Municipal e Biblioteca.


No chão da Avenida de Mármore está um interessante desenho que é atribuído às prostitutas do bordel, e servia para indicar a direção da “casa do amor”. No desenho se vê um pé esquerdo que indica a direção, um coração (simbolizando o amor), uma moeda (indica que o “serviço”é pago), uma mulher, e um cartão (indicaria os preços das diferentes mulheres). Ao que parece as prostitutas já tinham descoberto naquela época que “a propaganda é a alma do negócio”. Incrível!



Numa encosta, ao final da Avenida de Mármore, está o fantástico GrandeTeatro que ainda está sendo escavado. Foi originalmente construído com 24.000 lugares que os romanos  ampliaram para acomodar 40.000 pessoas.


 
Os romanos construíram também uma parede enorme na frente, para impedir que as pessoas se distraíssem com a rua e a vista do porto. Os assentos eram divididos em 3 partes: embaixo os políticos, depois os ricos e em cima os pobres. Alguma semelhança com a nossa realidade é mera coincidência? 


Depois do  GrandeTeatro entra-se na Avenida Arcadiano, uma rua de 500m. de largura que era a principal conexão entre o porto e o teatro. Na época o porto estava a apenas 1 km da cidade, mas hoje o mar está a 15 km porque o local foi soterrado em virtude dos destroços trazidos pelo mar com a inundação após o grande terremoto no ano 600 de nossa era.


Estar presente em Éfeso, cidade onde andaram apóstolos, sábios, hereges, santos, e pessoas comuns da época é um privilégio. Eu não vi apenas ruínas. O que se sente é a presença de uma cidade esplendida e maravilhosa, que reluzia ao longe devido a quantidade de mármore em suas construções. Repleta de arte, monumentos e fontes por todos os lados, limpa, florida e encantadora. Ilusão? Não, é a mais pura realidade porque o que transcende em Éfeso  não é o que se vê, mas o que se imagina.


TEMPLO DE ÁRTEMIS


Ao lado da cidade de Éfeso foi erguido uma das 7 Maravilhas do Mundo Antigo: o Templo de Ártemis, deusa grega da fertilidade. Era o maior templo do mundo antigo, todo construído em mármore, com uma mescla dos estilos egípcio, assírio e hitita, composto de 127 colunas de 1,2 metros de diâmetro por 20 de altura. Simplesmente monumental! Sua decoração era riquíssima, com diversas obras de arte, dentre elas a da deusa Ártemis em ouro, prata e ébano.


 Modelo do Templo de Ártemis segundo o Miniaturk (parque de miniaturas) em Istambul.

A complicada história desse monumento já dava mostras de qual seria o seu fim. O Templo, que foi construído em 550 a.C, levou 200 anos para ser concluído, e foi queimado por um louco em 356 a. C. Sua reconstrução levou 20 anos, mas foi novamente destruído por um ataque dos godos em 262 a.C. Terremotos que ocorreram na região acabaram de destruí-lo, transformando-o em uma pilha de entulhos, e passou a ser saqueado por vendedores de pedras. A ação do tempo ao longo dos anos foi responsável por deteriorá-lo e cobri-lo por completo. Hoje resta apenas 1 coluna no local. 


Algumas colunas de granito estão em Istambul na Basílica de Santa Sofia e na Cisterna da Basílica. Objetos de grande valor arqueológico foram levados para Londres e hoje estão expostos no British Museum. No Museu de Éfeso na cidade de Selçuk, estão as imagens originais de Ártemis, que como deusa da fertilidade era pintada com múltiplos seios que simbolizavam sua condição fértil.


Ao sair de Éfeso  tivemos a oportunidade de visitar uma fábrica de roupas de couro. O interessante de se conhecer e comprar roupas de couro na Turquia é que esse material, devido a forma que é confeccionado, é diferente e especial. O couro passa por uma máquina que o deixa muito fino, como se fosse um seda, e por isso ficou mundialmente conhecido como “pele de seda”. Grifes famosas como Armani, Gucci, Prada, têm fabricas por lá para confeccionarem peças com esse tipo de couro. O couro é de ovelha, e a alimentação orgânica  é um dos segredos da pele ser tão boa. É o segundo produto de exportação da Turquia, e as peças dessa fábrica têm certificado de qualidade.
A visita começa com um desfile, onde é servido o típico chá turco, e após o desfile os turistas são convidados a conhecer a imensa loja da fábrica com artigos para todos os gostos e bolsos. Os vendedores são muito eficientes, e como nos bazares, o que vale aqui é a pechincha para seu casaco sair por menos da metade do preço. Não resisti em levar um lindo casaco, mas o problema é que tinha de ter a manga encurtada. Problema? No problem! Rapidamente uma equipe de costureiras está de prontidão para fazer pequenos acertos (sem custos), e em menos de 15 minutos meu casaco estava pronto!
E sem nenhum atraso lá fomos nós para o ônibus para seguir viagem. Então, até Pamukkale!