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DESCOBRINDO O LÍBANO – DIA 3: BEITEDDINE / SIDON

BEITEDDINE

Beiteddineque quer dizer “Casa da Fé” (Beite-el-Dine), é o nome de uma aldeia e um belo palácio do século XIX, que se encontra a 17 km ao sul de Beirute, numa rota que passa pela área de Chouf e o vale do rio Damour, situado 850m acima do mar.


Antes de chegar ao local, a estrada atravessa a cidade de Deir Al  Qamar que quer dizer “o Monastério da Lua” e está a 5 km de Beiteddine. O nome de Deir Al Qamar se deve ao fato dela ter sido construída à luz da lua, e foi a capital do Líbano no século XVIII, até a sede do governo ser transferida para Beiteddine no século seguinte. Uma cidade pitoresca, com edifícios históricos bem preservados, e famosa por seus palácios que exibem o estilo antigo da arquitetura libanesa. Esta cidade desempenhou um papel muito importante na história do Líbano.


Na praça está a Mesquita Fakhreddine, construída em 1493 e restaurada no século XVI pelo Emir Fakhreddine. Atrás da mesquita está o souk (mercado) construído no século XIX. Muitas de suas casas apresentam duas janelas em arco, estilo típico da região. A cidade foi declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO.

Praça com a mesquita e o souk à direita
Antes de se chegar a Beiteddine vale uma rápida parada para conhecer também o Castelo de Moussa



Esse castelo, que agora é um museu, foi construído por um homem nascido de família humilde, que prometeu ao seu antigo professor que construiria um castelo quando ficasse adulto e rico. Foi colocado de castigo pelo professor por dizer tal mentira, uma ofensa, mas muitos anos mais tarde, quando conseguiu realizar sua proeza, voltou para contar o fato a esse professor, mas já era tarde porque ele tinha morrido.



 Mas Beiteddine é a grande atração e sua fachada impressiona.


O complexo do palácio de Beiteddine, é o melhor exemplo da arquitetura libanesa do início do século XIX, e foi construído ao longo de um período de trinta anos pelo Emir Bechir El Chehab II, que governou Monte Líbano por meio século. O palácio manteve-se como residência do Emir até o seu exílio forçado em 1840. Em 1842 o prédio foi utilizado pelas autoridades otomanas como a residência do governo. Mais tarde, sob o Mandato Francês, após a I Guerra Mundial, foi utilizado para fins administrativos locais. Em 1943, ano da independência do Líbano, o palácio tornou-se a residência oficial de verão do presidente. 


Hoje Beiteddine, com seus museus e seus jardins, é uma das principais atrações turísticas do Líbano. Ttambém é famoso por seu festival anual de verão (julho-agosto), apresentando shows  de grandes artistas árabes e internacionais.

Todo complexo do palácio está dividido em três partes, mas nem todos espaços podem ser visitados.
1.   A primeira parte, Dar a’Barranieh, engloba a entrada principal e um enorme pátio de 107 x 45 m,o Al-Midan, onde antigamente se concentravam os cavaleiros, cortesãos e visitantes nas grandes festividades.


Deste pátio também partia o Emir com sua comitiva, em solene procissão, quer para a guerra ou para a caça.
Ainda na entrada existe um pequeno museu, que conta a história de Kamal Jumblatt, membro do Parlamento, e ex-ministro do Líbano.

Entrada com o museu à direita
Ao longo do lado direito do pátio há um edifício de dois andares, Al-Madafa, utilizado antigamente para receber convidados do palácio. Uma escadaria leva ao andar superior, que foi completamente restaurado em 1945 usando documentos antigos como um guia. Antes da recente guerra no Líbano essa ala abrigou um importante museu do período feudal e hoje é o local do Museu Arqueológico e Etnográfico. O museu abriga uma grande coleção de cerâmicas da idade do Bronze à do Ferro, além de sarcófagos romanos, jóias de ouro, vasilhas de vidro da época islâmica. Infelizmente fotos são proibidas.


Na primeira sala deste andar há uma maquete de Beiteddine, que ajuda o visitante a visualizar o tamanho e a configuração dos edifícios.


 As demais salas são dedicadas a temas etnográficos, e contêm uma coleção de armas antigas e modernas, bem como trajes do período feudal.

A segunda parte, Dar Al Wousta, é a parte central do palácio. Essa ala se caracteriza essencialmente pela encantadora arquitetura, e por seus portões decorados com mosaicos e incrustações em estilo damasquino. Ao cruzar a entrada principal à direita encontra-se o alojamento da família que estava a cargo da guarda do palácio, e à esquerda os escritórios administrativos dos ministros.


A ala, que se abre para um pátio com fonte e com vista para o vale, é o luxuoso Tribunal de Justiça, com varandas de madeira e ricamente decorado com mosaicos e com mobiliário tradicional oriental em marquetaria


 Esta sala servia como escritório e salão de recepção do Emir e sua corte.



As paredes e os tetos em madeira são esculpidos, ricamente pintados e decorados com motivos e caligrafia árabe


As fontes de mármore e painéis foram engenhosamente projetadas para esfriar o ambiente no verão, enquanto os braseiros estavam prontos para aquecer os interiores de pedra fria no inverno. As fontes de água eram usadas também para mascarar com seu barulho a conversa dentro das salas, de forma a prevenir que alguém de fora ouvisse o que se dizia. 

Fonte

A terceira parte do palácio, Dar El Harimsalamlik, o Harém interior, as cozinhas e os banhos.

Fonte e ao fundo a entrada do Dar al Harín
Detalhe da porta de entrada do Dar al Harím
À esquerda da porta se encontra a recepção que é composta de uma sala de espera e um salão. O teto da sala de recepção é sustentado por apenas uma coluna, e por essa razão se denominou a “sala da coluna”. O salão de recepção em si é constituído de dois níveis. O nível superior foi consagrado ao Emir e seus visitantes e é o mais decorado de todos com um piso de mosaico e paredes revestidas de mármore esculpido.



Detalhe do teto do salão de recepção
Um corredor leva ao Harém Inferior, com os apartamentos privados do Emir e sua família em torno de um pátio fechado nos quatro lados.
Entre os dóis haréns está a área dedicada à cozinha onde se preparavam diariamente refeições para mais de 500 pessoas
Das varandas do Dar El Harim, se tem uma bonita vista dos jardins e arredores do palácio.


Os banhos, ou hammam, foram instalados na parte superior, e são um dos mais belos do mundo árabe. Seguindo a tradição que remonta ao tempo dos romanos, estes possuem uma sala fria, usada para se despir e para relaxamento antes e após o banho. Nesta sala de recepção, o Emir também discutia política, literatura ou ouvia os últimos rumores.

Hall de recepção do hammam
Na segunda seção dos banhos está a sala morna, que era usada para massagens e servia como transição entre as seções frias e quentes.


 A terceira parte era composta de salas quentes, com seu característico teto abobadado e vidros para entrada de luz


Os banhos dão para um jardim onde se encontra o mausoléu da primeira esposa do Emir Bashir. Ela está enterrada no canto dos jardins. Quando as cinzas do Emir foram trazidas de volta, em 1947, elas foram colocadas na mesma sepultura. 
E os jardins são uma atração a parte por sua beleza e tranquilidade. 



Do jardim se tem uma bonita vista dos arredores do palácio, mas o que mais encanta são os detalhes da arquitetura libanesa do século XIX


Dar El Wousta e Dar El Harim foram construídos sobre as belas salas abobadadas que serviram antigamente de estábulo, utilizado para acomodar 600 cavalos e seus cavaleiros, bem como os 500 soldados de infantaria da guarda do Emir. Essas salas foram restauradas e hoje abrigam uma extensa coleção de mosaicos bizantinos.

Entrada do museu do mosaico
Interior do museu com grandes mosaicos no chão e nas paredes
A maioria desses mosaicos veio das ruínas de uma igreja bizantina, na cidade costeira de Jiyyeh, ao sul de Beirute. Segundo as inscrições gregas que aparecem nos mosaicos, eles datam dos séculos V e VI d.C, e mosaicos de outros sítios são exibidos nos jardins do museu.




Faça um tour de 360º pelo Museu do Mosaico


SIDON

Sidon (ou Saida / Saidón) é uma cidade costeira a 48 km de Beirute, conhecida como a capital do sul do Líbano, e foi uma das mais importantes cidades na época dos fenícios, rivalizando com Biblos e Tiro como potência naval. 


O auge de seu poder comercial e naval foi alcançado no final do período fenício, que durou desde o século 12 a.C a 330 a.C, coincidindo com a ascensão do Império Persa. Após este período, Sidon foi sucessivamente conquistada pelos gregos, por Alexandre, o Grande, pelos romanos, bizantinos, cruzados, mamelucos e otomanos. 


Seu passado ainda é misterioso devido à falta de escavações e porque, no início do século XX, seu patrimônio foi dilapidado por colecionadores de antiguidades. Há evidências de que Sidon foi habitada já no período Neolítico (4000 a.C).
A antiga cidade foi construída sobre um promontório de frente para uma ilha que abrigava sua frota de navios das tempestades e serviu como refúgio durante as incursões militares do interior. Nessa ilha em frente ao porto encontra-se o Castelo do Mar, construído no século XIII pelos Cruzados.



 Antigamente a ilha se comunicava com o continente por meio de uma ponte de madeira semi fixa que podia ter suas peças removidas em tempos de ataque. Dessa ponte só resta um pilar perto do castelo e hoje existe uma passarela de pedra que foi construída em 1936.


Nas paredes exteriores do castelo, colunas romanas foram utilizadas como reforços horizontais, um recurso frequente nas fortificações da época.


Após várias invasões partes do castelo foram destruídas, e hoje o castelo é constituído basicamente de duas torres ligadas por uma grande parede. A torre oeste é a mais bem preservada.


Interior da torre oeste
Vista do porto de Sidon de uma das janelas da torre
A escada até o topo leva ao telhado, onde há uma boa vista do porto, da orla e da parte antiga da cidade.



Na orla marítima, próximo ao Castelo do Mar, encontra-se o Restaurante do Ministério do Turismo, localizado em uma bela construção medieval restaurada, que possui excelente cozinha e oferece diariamente pratos libaneses típicos.


E de lá se tem uma bonita vista do Castelo do Mar


As mesas estão distribuídas tanto no pátio externo com vista para o mar, como no salão interno com decoração medieval.


Nesse agradável e bonito restaurante experimentei, entre outros pratos, o “saiadíe”, um prato típico de arroz com peixe coberto com cebola frita, amêndoas, pistache, castanha de cajú e snoubar. Delicioso!



Hoje a cidade de Sidon, que tem uma população predominantemente muçulmana sunita, está repleta de pequenas lojas e comércio. A cidade é conhecida pela sua produção de caixas de madeira e móveis gravados, bandejas de cobre e bronze, sabão de azeite de oliva, e talheres de osso tratado.
Na cidade antiga, em frente ao Castelo do Mar, é pitoresco andar e se perder pelos “souks” (mercado). Na avenida principal chama a atenção a feira de frutas, legumes e verduras, com suas bancas espalhadas pelas sujas calçadas.

Comércio caótico de rua

E a feira com legumes enormes

É um grande labirinto de ruas e pequenas lojas que vendem de tudo: peixe, roupas, comida e doces, artesanato, especiarias, jóias...uma mistura de cores e odores impactante!



E o passeio vale a pena também porque essas vielas levam ao interessante Museu do Sabão 
O edifício do Museu é uma fábrica de sabão, que remonta ao século XVII, localizado na parte antiga de Sidon e foi recentemente restaurada pela família Audi




Este fascinante museu retrata a história do sabão na região. Os visitantes podem ver uma demonstração como os tradicionais sabonetes de azeite de oliva são feitos e aprender sobre a história dos "hammam" (banhos).





Há  também uma loja anexa ao Museu, onde você pode comprar sabonetes de azeite de oliva e outros de alta qualidade, além de produtos tradicionais de banho.

Saímos do museu do sabão por outro acesso que nos levou diretamente a um interessante caminho de volta por vielas medievais.






Um labirinto de túneis e ruas de pedra estreitas, antigas, sujas, cheia de becos e moradias que mais pareciam cortiços com roupas dependuradas e fios de eletricidade emaranhados. Inesquecível!

Sidon também é famosa pela qualidade e variedade dos doces locais, que podem ser vistos sendo preparados nas lojas do souk da cidade antiga, mas também em fábricas como a que visitamos, a famosa doceira Kanaan





E quem pode resistir a essas tentações? O resultado foram algumas caixas de doces para levar de lembrança, e muitos quilos a mais na bagagem e na balança!